22 fevereiro 2011

O RIBATEJO, terras com história antiga e território de múltiplos atravessamentos

1 - As terras do Ribatejo, também actualmente identificadas no contexto das Regiões Plano do território nacional, como Região do Vale do Tejo, encontram-se localizadas, praticamente no centro do país, distando Santarém, a sua capital administrativa, cerca de 70 km de Lisboa.

Todo este vasto e heterogéneo território tem história e origens muito antigas, remontando os seus primeiros povoados aos tempos neolíticos. Entre estes, conta-se Scalabis com raízes pré romanas, hoje Santarém, actual capital da região e a sua maior cidade. À sua denominação pelos bárbaros e romanos seguiu-se, entre os séculos VIII e IX a soberania árabe, período em que não só se desenvolve Santarém, como também muitas outras povoações da região “scalabitana”.

Entretanto, na transitoriedade histórica, toda a fértil região ribeirinha do Tejo foi sendo disputada entre árabes e cristãos, até à sua conquista definitiva em 1147 pelo primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques.

Foi durante a dinastia afonsina que as suas principais vilas receberam os primeiros forais, constituindo terminologia comum dos seus textos, a caracterização da região como “as terras de pão, vinho e gado”.

Cedo também, com o advento da Revolução Industrial, chegaram ao Ribatejo as primeiras máquinas agrícolas, tornando os seus campos num dos mais importantes esteiros do Portugal Agrícola. Em simultâneo, com o progresso tecnológico e o crescimento da produtividade dos seus férteis solos, as indústrias e os serviços foram, progressivamente, ganhando importância crescente na economia da região.

Mas não só pela fertilidade dos seus solos e pela amenidade do clima se distingue todo este vasto território da “ Riba do Tejo”. Também a excelência do diversificado património natural, monumental e cultural, abraça toda a sua história e se confunde com a génese evolutiva do Portugal moderno.

Neste primeiro decénio do século XXI, o distrito de Santarém, que administrativamente engloba quase a generalidade do território ribatejano ou do Vale do Tejo, constitui uma das regiões portuguesas com notórias potencialidades e alguns contrastes, onde o rural e o urbano harmoniosamente se entrecruzam, qual mosaico policromático, procurando no labor e no saber das suas gentes, a dinâmica quotidiana necessária para a modernização e inovação de um processo de desenvolvimento sustentável e socialmente qualitativo.

2 – O distrito de Santarém, possui uma superfície de 6.071 km.2, onde habitam cerca de 455 mil pessoas, sendo o seu território percorrido longitudinalmente pelo Tejo, “príncipe dos rios ibéricos”, que lhe confere um traço de união, uma identidade própria e lhe marca a diversidade cultural. Administrativamente, engloba 21 municípios e 192 freguesias tendo por capital Santarém, a antiga e romana “Scalabis”, cidade com reconhecida monumentalidade, hoje apelidada como a capital portuguesa do gótico.

Todavia, dentro da própria região, marcando a diversidade de duas realidades naturais, não existe uma hegemonia territorial. Cerca de 60% da superfície regional, localizada a jusante da Bacia Hidrográfica, integra a sub-região da Lezíria do Tejo, território rico em solos aluvionares proporcionadores de uma agricultura de excelência. Os restantes 40% formam a sub região do Médio Tejo, território situado na zona centro – norte do Vale do Tejo, com uma morfologia mais acidentada, favorável ao desenvolvimento da fileira florestal e à pastorícia e, onde também, se desenvolve uma antiga aptidão para a actividade industrial.

Em termos populacionais, o distrito de Santarém vê a sua população repartir-se de forma semelhante entre as duas sub regiões. Na Lezíria do Tejo, onde a densidade populacional é menor, especialmente no território da margem esquerda do Tejo, vivem, segundo o último recenseamento, cerca de 220 mi habitantes distribuídos não uniformemente por dez concelhos. Nos onze municípios do Médio Tejo, conferindo um habitat populacional mais denso e uniforme, habitam as restantes 235 mil pessoas.

Mas, hoje, tal como ontem, o Vale do Tejo, constitui na sua globalidade um território promissor, com inegáveis recursos endógenos, nomeadamente na natureza dos seus solos e na sua Bacia Hidrográfica. Ciente das potencialidades, mas também não ignorando a persistência de alguns estrangulamentos estruturais, é urgente, julgamos nós, que os agentes de desenvolvimento do Vale do Tejo e os seus responsáveis políticos, encontrem a consensualização algumas políticas e a aglutinação de múltiplas vontades, em torno de uma estratégia integrada de desenvolvimento sustentável para a região .

Em nosso entender, julgamos que na concretização dessa estratégia, deve sobressair como grande objectivo regional, a afirmação da competitividade do território num cenário geoestratégico nacional. Isto, num quadro de sustentabilidade, inovação e de transferência tecnológica, promovendo a cidadania e o bem estar, o robustecimento, a diversidade e a internacionalização da base económica, a requalificação dos recursos humanos, o fortalecimento do associativismo empresarial, a atracção de novos investimentos, isto tudo alicerçado num quadro institucional de uma administração moderna, inovadora e participada.

Importa, enfim e de uma vez por todas, sobretudo superando desafios em tempos adversos, transformar o ancestral e produtivo Ribatejo, numa região mais moderna, fortemente competitiva, porta de entrada do Atlântico e de referência valorativa, no contexto das regiões europeias.

Renato Vieira Campos

Fev. 2011

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