13 março 2011

“Austeridade”

“Austeridade” é uma das palavras de ordem que ouvimos repetidamente nos últimos tempos, tal como expressões ”menos Estado, menos despesa pública”! Contraditoriamente, porém, reclamam-se mais médicos, polícias, escolas, hospitais, estradas, protecção social, transportes públicos, ajudas às empresas, etc. Na prática, reclama-se um “Estado proteccionista” mas, paradoxalmente, todos exigem pagar cada vez menos impostos para o “alimentar”!

Ora, isto leva-nos a uma equação de difícil resolução: enquanto País, as nossas despesas são muito superiores às receitas públicas o que deriva num saldo negativo, num Deficit Público! Inevitavelmente, para cobrir esta diferença, o Estado tem que se endividar junto de financiadores externos, recorrendo aos “mercados”. O somatório acumulado dos vários deficits, deriva na chamada Divida Publica.

Todavia, é bom lembrar que em Portugal não tem sido só o Estado a endividar-se. As famílias e empresas também tem recorrido, sistematicamente, ao endividamento, o que resulta na chamada Divida Privada, que não é mais do que o equivalente ao financiamento que o nosso sistema bancário pede ao exterior, para depois nos emprestar!

A Divida Publica somada com a Divida Privada, origina a Divida Externa do País que, nesta altura, representa quase 225% do nosso produto interno bruto, sendo esta, a principal razão porque corremos algum risco (serio!) de termos de recorrer á ajuda do FMI e do fundo de estabilização! Mesmo que um Governo (este ou qualquer outro) consiga controlar a despesa pública, existe ainda a divida privada para nos preocupar seriamente (e aos nossos credores). Esta, aliás, é bem maior do que a do apelidado “Estado despesista”. O tal Estado que queremos mais pequeno mas a quem exigimos, constantemente, mais e melhor!

Em suma, estamos perante um problema, não só, da sustentabilidade do Estado mas fundamentalmente, da nossa viabilidade económica enquanto pais. Irremediavelmente, teremos que passar a saber fazer mais e melhor com menos recursos! Para isso, existe apenas uma maneira de o realizar: sermos eficientes, mais produtivos, para podermos ser mais competitivos! Só assim, conseguimos uma balança comercial mais equilibrada, que proporcionará mais riqueza para o País, para depois podermos exigir que o Estado faça mais e melhor por todos nós!


Renato J. Campos
Economista

Artigo publicado na Edição de Fevereiro da Revista Dada

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