22 julho 2013

AUSTERIDADE, SOLUÇÃO OU PROBLEMA?


AUSTERIDADE, SOLUÇÃO OU PROBLEMA?


Terça, 05 Fevereiro 2013 17:01


É inequívoco que Portugal vive uma grave crise. Possui uma dívida soberana muito superior ao seu PIB e tem vindo a acumular excessivos défices. Em função disso, é imperativo encontrar soluções para estes desequilíbrios que condicionam negativamente a vida de todos.

Porém, se os problemas são inquestionáveis, as soluções não podem deixar também de ser questionáveis. O país vive, atualmente, subordinado ao predomínio das finanças públicas em detrimento do primado da economia, em particular, das estratégias de desenvolvimento. Na prática, tem existido uma preocupação quase exclusiva com o défice orçamental e com a dívida soberana. Mas o défice e a dívida são vetores de finanças públicas que devem estar ao serviço da economia e só com o dinamismo desta, se poderá gerar a riqueza produtiva necessária para que seja possível o equilíbrio estrutural das nossas contas.



Com efeito, na essência deste processo, tem-se optado por uma política de austeridade baseada no assumido aumento da receita fiscal e no corte da despesa pública (em especial, corte de salários, pensões e prestações sociais). Ou seja, no seu conjunto, uma opção pela compressão do rendimento disponível das famílias.

Obviamente, não deixa de ser claro que, para fazer face a problemas de endividamento, somos obrigados pelos nossos credores a implementar medidas de contenção, reduzindo o nível de despesa e como tal, o nível de vida. E atuar só do lado da despesa não basta, também é indispensável não baixar o nível de rendimentos (riqueza) auferido.

Decrescendo as duas variáveis (despesa e rendimento), ficando mais pobres, torna inviável pagar uma dívida que, todos os dias, vai crescer com os juros. Daí que, se por um lado, o país não pode dispensar uma determinada política de contenção racional de gastos, por outro lado, não pode também deixar de procurar uma estratégia de crescimento económico que permita, o acréscimo de riqueza necessária para poder amortizar, progressivamente, o seu endividamento. Se o nosso limite de divida é uma relação percentual do produto (por ex. o teto da divida é 60 por cento do PIB), temos que aumentar o denominador (PIB).

É nesta dualidade, da intensidade do equilíbrio entre austeridade e crescimento, que se tem gerado uma grande controvérsia política. Contudo, convém não esquecer que nem sempre tudo na vida é preto ou branco, na maioria dos casos pode ser cinzento e também na ciência económica tal acontece. É necessário, urgentemente, ajustar o “mix” de “calibração” entre austeridade e crescimento que consiga responder de forma mais eficiente aos problemas que temos. Uma atenção obsessiva ao défice orçamental, baseada quase exclusivamente em medidas de austeridade, sem se atender, em simultâneo, à dinamização da economia é prolongar ‘sine die’ o ciclo recessivo produtivo do país e regredir nos aspetos sociais do desenvolvimento. Gastos desmedidos em investimento não reprodutivo também, da mesma forma, é proibitivo.

Deste modo, é preciso mudarmos o nosso paradigma face à atual situação de desequilíbrio, pois o grande problema estrutural da economia portuguesa é, sem dúvida, o fraco crescimento económico na fase pós adesão ao euro. Hoje, já poucas dúvidas subsistem a este respeito e os números falam por si; de 2000 a 2007 conseguimos apenas um crescimento médio de 1,5 por cento ao ano e uma contração acumulada do PIB de 2008 a 2012 de mais de 5,5 por cento.

O nosso problema “pós euro”, deriva de graves desequilíbrios da nossa matriz produtiva face a novas realidades e mercados, ao mesmo tempo que perdemos uma importante “arma” de equilíbrio macroeconómico, a política cambial e monetária. Foi, aliás, essencialmente, por via de políticas cambiais de desvalorização competitiva, que conseguimos reequilibrar as nossas contas na crise dos anos 80.

Por fim, outra das causas que poderão justificar a nossa “década perdida” poderá estar, também, na própria arquitetura da zona euro, que não é mais do que “um fato feito à medida” para a Alemanha e para a sua economia, baseada em bens de alta intensidade tecnológica (onde o fator preço não é determinante na mesma medida), tendo o Euro um valor cambial proibitivo para a competitividade de grande parte dos outros parceiros europeus da zona euro, em especial, a europa do sul.

Ora, perante tais problemas, estruturais, surge agora outro grande problema: o ciclo depressivo que a própria austeridade despoleta. Como tal, surge naturalmente uma pergunta; como sair desta espiral recessiva? A resposta são medidas contra cíclicas, fazendo o oposto do que temos feito na última década; menos austeridade, “turbinando” os gastos públicos em investimento reprodutivo e políticas fiscais agressivas, elevando a procura agregada (interna e externa). Esta variável “ativaria” os restantes estabilizadores automáticos. Os economistas keynesianos chamam a isto “ligar o motor” da economia e é baseado no “famoso” efeito multiplicador.

Em suma, ao invés de tentarmos perceber como poderemos cortar quatro mil milhões de Euros de despesa, deveríamos questionarmo-nos com sublinhada acuidade, como conseguiremos também crescer acima de quatro mil milhões de Euros!



Renato J. Campos
Economista

Publicado in Revista DADA

O VERDADEIRO DESPERDÍCIO!

 
O principal indicador para avaliar a prosperidade económica de um país, é o Produto Interno Bruto (PIB) e os principais fatores que influenciam a variação do produto são: a produtividade e a quantidade de fatores de produção (capital, trabalho e conhecimento) empregues ao serviço da economia. 
 
No caso de Portugal, a análise da variação do nosso PIB exibe uma situação de grave recessão, em grande medida, derivada da utilização pouco eficiente dos fatores produtivos. E de facto, a falta de produtividade é um problema estrutural há muito identificado em Portugal, resultante da pouca incorporação de “Conhecimento” no trabalho e da pouca rentabilização do capital. Porém, proporcionalmente bem mais grave, é a não utilização plena dos nossos fatores produtivos, fazendo com que o PIB português não se encontre no seu nível potencial, isto é, o equivalente ao patamar de pleno emprego dos fatores de produção. 
 
Assim, na atual grave recessão, existe um elevado hiato do produto, ou seja, a diferença existente entre o produto efetivo (o que produzimos) e o produto potencial (o que poderíamos produzir), o que demonstra uma inequívoca subutilização dos nossos fatores produtivos, nomeadamente ao nível do fator trabalho. O número de quase um milhão de desempregados simboliza bem este desaproveitamento.
Resultado: um verdadeiro desperdício, derivado de medidas de austeridade que visam obter uma desvalorização competitiva, refletida na quebra acentuada dos custos de mão de obra obtida à custa do aumento do desemprego. Sinteticamente, menos oferta de emprego e muitos desempregados equivale a menores remunerações.
 
Porém, tal como a história económica sempre o demonstrou, estas medidas fracassaram estrondosamente. Porquê? Porque os modelos que estão na base das políticas económicas assentes na teoria da austeridade, ignoram algo muito importante: o desemprego corresponde a um massivo desperdício de recursos valiosos. Porque níveis de desemprego acima da taxa natural, correspondem a bens e serviços que os desempregados podiam ter produzido e não o fizeram, bem como, receitas fiscais provenientes do trabalho que são desperdiçadas.
 
É por esta razão que muitos defendem políticas económicas de inspiração Keynesiana, viradas massivamente para o incentivo ao crescimento pela via da “procura”. Não é um cliché, é ciência económica e já está na hora de “ligar o motor” e fazer crescer a economia!
Renato J. Campos
Economista

in
Revista DADA Maio

AUSTERIDADE, SOLUÇÃO OU PROBLEMA?

AUSTERIDADE, SOLUÇÃO OU PROBLEMA? Terça, 05 Fevereiro 2013 17:01 É inequívoco que Portugal vive uma grave crise. Possui uma dívida soberana...